Fórum Mundial de Educação – uma experiência democrática e popular
Juçara Dutra Vieira
A perspectiva de construção de referenciais e de práticas sociais contra-hegemônicas ao neoliberalismo inspirou a criação do Fórum Social Mundial (FSM) que ocorreu em 2001, na cidade de Porto Alegre. Nesse contexto de resistência ao modelo que, hoje, mostra toda sua perversidade, organizações sindicais, científicas e acadêmicas, associadas a movimentos sociais e estudantis iniciaram as edições do Fórum Mundial de Educação (FME), as três primeiras também em Porto Alegre. Importante salientar que, mesmo aberto ao protagonismo das representações da sociedade, o FME foi proposto pela administração da cidade que vivia um ciclo de quatro gestões populares, iniciado em 1989.
Em 2001, eu presidia o CPERS/Sindicato, organização que representa os profissionais da educação básica da rede estadual e, a partir de 2002, também a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), ainda hoje membro do Conselho Internacional do Fórum Mundial de Educação. Tive, pois, o privilégio de participar ativamente da concepção do Fórum e de sua organização.
Além dos debates sobre o papel da educação na construção do projeto de sociedade orientado por valores socialistas, o FME desafiou-se a construir uma plataforma, cujas metas expressassem a realidade desejável em termos educacionais. Esse foi um difícil exercício de elaboração, a começar pela necessidade de diferenciar o caráter das metas voltadas para o direito à educação das que inspiravam as políticas neoliberais. De certa forma, as Cartas resultantes dos eventos conseguiram fazer as sínteses das propostas e da pluralidade das abordagens sobre o tema.
Outro desafio importante relacionava-se à própria natureza do FME: Evento? Espaço de discussão? Organização? Processo? Entre esses vários significados, seus limites e potencialidades, o coletivo apontou algumas direções, tais como: protagonismo de todos os atores sociais envolvidos no debate; horizontalidade das relações; convivência democrática; pluralidade nas representações institucionais; elaboração cumulativa e aberta a atualizações exigidas pelo contexto.
Iniciado em um momento histórico de ascensão das lutas sociais, o Fórum Mundial de Educação pode e deve ser um instrumento de disputa de opinião e de mobilização neste contexto de retrocesso político e civilizatório. Trata-se de uma experiência democrática e popular que envolve um direito fundamental da sociedade: a educação de qualidade, inclusiva e emancipadora.
Juçara Dutra Vieira
Doutora em educação
Porto Alegre, 27 de agosto de 2017