«Estamos produzindo a escola do capitalismo, que é a escola da ignorância.» A opinião contundente do professor espanhol Julio Nicolas Rogero Anaya foi um dos destaques da abertura da conferência «Educação, trabalho e emancipação». Anaya, que é membro do Movimento Renovação Pedagógica Escola Aberta da Federação MRP de Madri, falou também sobre grupos de docentes que se organizaram para defender uma escola pública de qualidade, ocupando a Porta do Sol e outras praças em toda a Espanha durante um mês, em 2011.
Julio Rogero defende que «a crise não existe, o problema é o sistema. Entramos em uma fase de colapso em uma nova sociedade». Ele se preocupa com a educação e a formação tecnológica controlada pela sociedade. «A educação hoje é um dilema: educar para vida, ensinar para o mercado de trabalho», critica.
«Vivemos em um sistema que ainda não morreu e numa nova sociedade que ainda não nasceu. Nos encontramos no ponto crucial da bifurcação. O desafio se dá na hora de decidir: ou entramos na fase de colapso, ou na fase de avanço rumo a uma nova sociedade», defende Anaya.
O professor enfatiza que a crise vivida em Madri nos últimos anos abriu caminho para que as empresas privadas construíssem centros educativos. Para ele, é urgente que a educação seja reconhecida como direito humano. Para ele, a vida consiste basicamente numa «persistência de processo de aprendizado». Por isso, «educar significa hoje, mais do que nunca, defender a vida».
O segundo conferencista, Fredric Michael Litto, defende a educação a distância e acredita que falta a sociedade dar mais credibilidade a essa modalidade de ensino. «A educação a distância é a educação do futuro», defende ele, que é presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED).
Para Litto, o Brasil não tem força de trabalho qualificado para suprir as suas ambições. O problema, afirma, não é a falta de dinheiro, é cultural, pois o conservadorismo permeia todos os setores da sociedade. «A criatividade é limitada, a inovação é um atributo que só pode ser afixado depois da sua criação e da verificação da sua originalidade, a inovação em educação tem demonstrado resistência», conclui.
Fredric Litto defende a idéia que o ensino superior no Brasil tem de ser repensado, redefinir as credenciais que validam a aprendizagem avançada. Ele questiona também convenções como o sistema semestral, o sistema de créditos acadêmicos, a proibição de admissão abaixo de 17 anos no ensino superior e até a aposentadoria compulsória.
Parte do público manifestou-se contrária ao teor da palestra de Fredric Litto durante a conferência. Algumas pessoas da platéia entregaram, inclusive, um manifesto por escrito à Secretaria Executiva do II FMEPT. «Entendemos que o Fórum é um espaço democrático, no qual pessoas com diferentes visões têm o direito de se manifestar», explica a secretaria-executiva do evento, Waleria Külkamp Haeming. A participação de Litto estava prevista inicialmente no debate 5, «Formação de Trabalhadores e Trabalhadoras da EPT», mas foi transferida para a conferência desta quarta, em função da impossibilidade de Ubiratan D’Ambrosio, que participaria da conferência, mas não pôde comparecer ao Fórum motivos de saúde.