A polarização entre ideologias distintas marcou o debate “Educação profissional e desenvolvimento sustentável”. De um lado, Alexandre de Avila Leripio (Brasil) defendeu que fazer o jogo do mercado é fundamental para não “pregar no deserto”. O professor (na foto, à esquerda) participou do debate com um propósito definido: “sou um provocador”, disse, afirmando ter consciência de que estava “cutucando a onça com vara curta” – uma menção às colegas de mesa cujo posicionamento ideológico difere dos seus.
Do outro lado da trincheira, as professores Graciela Ester Mandolini (Argentina) e Maria Luisa Durán (Colômbia) acreditam que o sistema capitalista é incompatível com o desenvolvimento sustentável, sendo a “sustentabilidade” um discurso apropriado indevidamente pelos organismos do mercado.
“Os índices e as mostras dos problemas ambientais evidenciam que depois de 40 anos de medidas ambientais não há melhoras nesse aspecto. Tudo indica que está piorando a situação ambiental. Há uma quantidade de teóricos que criticam sistematicamente e mostram a insustentabilidade do sistema econômico, capitalista-hegemônico”, afirma Maria Luisa Eschenhagen Durán (na foto, de blusa vermelha), da Colombia. Entre os dados ambientais negativos, ela cita a não redução de gás carbônico em Durban e o texto do novo Código Florestal brasileiro.
A professora critica a formação acadêmica na área ambiental, afirmando que os profissionais que planejam e executam as políticas ambientais saíram dos bancos universitários. “Os estudantes são formados em uma ambição moderna, positivista, dentro de uma racionalidade economicista, instrumental, e terminam por não entender o que é a complexidade ambiental; a universidade tem responsabilidade nisso tudo”.
Comungando da mesma idéia, a professora Graciela Ester Mandolini (na foto, à direita) veio ao debate para trazer a experiência da Escola Agrotécnica Libertador General San Matín, ligada à Universidade Nacional de Rosário, em Santa Fé. “É necessário refundar o modo como pensamos a sustentabilidade em uma perspectiva que se proponha questionar as raízes do sistema capitalista”, defende. A escola trabalha com ideais humanistas, que visam reconhecer e respeitar as necessidades das comunidades tradicionais. “Se continuarmos a pensar na mesma lógica de progresso e com o mesmo modelo produtivo, não estaremos trabalhando em prol do desenvolvimento sustentável”, considera.
Para fazer o contraponto às professoras, o debatedor Alexandre de Avila Leripio abordou a experiência do mercado e da docência. “Não acredito que o professor enclausurado na universidade consiga resolver os problemas do mundo. O professor precisa sair e ver o que o mundo precisa”, defende. Leripio, que presta consultoria na área ambiental, acredita não apenas ser possível, mas inevitável, conciliar o progresso, o desenvolvimento econômico com a sustentabilidade do planeta.
O mediador do debate, Daniel José da Silva, buscou equilibrar os ânimos da plateia, que polarizou ainda mais o debate, com intervenções em defesa tanto de Lerípio como das professoras Graciela e Maria. “A distinção pela ideologia afasta as pessoas”, ponderou o mediador do debate, Daniel José da Silva, que buscou equilíbrio na construção de soluções.