Desculpe mãe, desculpe pai, desculpe irmão, desculpe família

Pedro Herencio de Freitas, 17 anos, estudante da escola pública, secundarista, alumno da Escola Morada do Vale I – CIEP, Ocupa. Gravataí – RS – Brasil

texto en castellano

«Sei que essa nunca foi a educação que eu recebi de vocês, mas infelizmente aconteceu, e hoje eu luto contra isso. Eu desapontei vocês.

Desculpe mãe, desculpe pai, desculpe irmão, desculpe família – Eu virei marginal!
Sou marginal por cobrar o que é nosso por direito e que deveria funcionar normalmente.
Sou marginal por querer viver o que nos foi prometido.
Sou marginal por ser um garoto engajado em causas humanitárias.

Desculpe mãe, desculpe pai, desculpe irmão, desculpe família – Eu virei bandido!
Virei bandido porque não estamos satisfeitos com o que vivemos.
Virei bandido porque não estou conformado, e não compactuo com a desigualdade e a crueldade da sociedade.
Virei bandido porque meu eu interior me designou a isso.

Desculpe mãe, desculpe pai, desculpe irmão, desculpe família – Eu virei delinquente!
Virei delinquente porque eu tirei as vendas de meus olhos, e vi, tentei enxergar, ainda com a visão embaçada em meio a tudo isso.
Virei delinquente porque minha boca amordaçada agora reproduz a ideia que eu, como cidadão crítico, estabeleço.
Virei delinquente porque agora minha boca reproduz o que meu cérebro pensa, e cada onda sonora provoca um ruído irritante nos ouvidos alheios.
Virei delinquente porque eu aprendi a escutar todxs a minha volta e isso os incomodam, porque eu não me importo.
Virei delinquente porque não quero excluir ninguém.

Desculpe mãe, desculpe pai, desculpe irmão, desculpe família – Eu sou fora da lei!
Sou um fora da lei porque eu dou minha cara a tapa por todxs, mesmo que não reconheçam isso.
Sou fora da lei por estar correndo todos esses riscos.
Sou fora da lei porque não reconhecem nosso esforço.
Sou fora da lei porque não concordo com uma democracia ultrapassada como a que vivemos.
Sou fora da lei porque me apontam o dedo.
Sou fora da lei porque sou um ser humano.

Desculpe mãe, desculpe pai, desculpe irmão, desculpe família – Eu sou o réu!
Eu sou o réu porque não sou egoísta.
Eu sou o réu porque venho tentando conscientizar as pessoas que elas não vivem isoladas.
Sou o réu porque é difícil mudar.

Desculpe mãe, desculpe pai, desculpe irmão, desculpe família – Eu estou com medo!
Estou com medo de toda essa incerteza.
Estou com medo de não ter mais nenhum acesso a educação e cultura.
Estou com medo da censura.
Estou com medo de ser alienado novamente.
Estou com medo que a nação perca tudo que a educação pode nos trazer de bom.
Estou com medo de todo esse medo.
Estou com medo de não estar assegurado da minha integridade física e mental total.

Desculpe mãe, desculpe pai, desculpe irmão, desculpe família – Eu aprendi e continuarei aprendendo!
Eu aprendi e continuarei aprendendo que existem pessoas maravilhosas do meu lado e que vão me apoiar.
Eu aprendi e continuarei aprendendo que isso tudo vai melhorar um dia.
Eu aprendi e vou continuar aprendendo que posso sair perdendo, mas sairei convicto dos propósitos das minhas tentativas.
Eu aprendi e continuarei aprendendo com meu infindáveis erros.
Eu aprendi que existem pessoas que simplesmente não se importam.
Eu aprendi e continuarei aprendendo que as adversidades são fundamentais para despertar a atenção dos outros.
Eu aprendi que lidar com pessoas é a tarefa mais difícil dos outros, mas é a mais importante de todas.
Eu aprendi e vou continuar aprendendo que existem sempre dois lados ou mais.
Eu aprendi que precisamos respeitar e entrar num consenso.
Eu aprendi e continuarei aprendendo que aprenderei e continuarei aprendendo com tudo isso e tudo mais que minha capacidade intelectual não permitiu escrever.

Tudo isso também serve pra dizer que não importa o quanto você se importe, o quanto você faça por todxs, elxs continuarão a te julgar.

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