II Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica começou ontem e segue até o dia 1º de junho, em Florianópolis

Diario Catarinense 29/05

A educação como política estratégica do Brasil e o ensino profissional e tecnológico como imprescindível para o país aumentar a competitividade e gerar inovação no setor produtivo. Para o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, é assim que a educação precisa ser pensada.

Ele esteve ontem, em Florianópolis, na abertura do II Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica, que vai até 10 de junho. O ministro ressaltou a necessidade da escola inovar, para se tornar mais atraente e criativa para o jovem, principalmente no ensino médio, que concentra as maiores taxas de abandono e repetência. Para ele, um dos caminhos é trabalhar a inclusão digital.

O ministro também ressaltou a importância do ensino médio integral. De acordo com ele, as instituições que adotam o modelo já alcançaram o Ideb previsto para ser atingido em 2020. Por isso, com o Pronatec, que vai expandir a rede federal de educação tecnológica até 2014, é ter 562 institutos federais, que atendam 600 mil jovens no ensino integral. O ministro foi bastante vaiado ao tentar explicar como está o salário de um professor universitário.

De acordo com ele, o problema a ser discutido e resolvido não é o piso, e sim a carreira do docente, que já começou a ser debatida, mas precisou ser interrompida. A partir de hoje, começam as conferências e debates no evento, que terá a participação de 31 convidados nacionais e 41 internacionais, de países como Inglaterra, Espanha, Portugal, México, EUA e Uruguai. Entre os convidados está o professor espanhol e membro do Movimento Renovação Pedagógica Escolar Aberta da Federação MRP de Madri Julio Rogero. Nesta entrevista, ele fala que a formação técnica e profissional pode ser um caminho para os jovens que não conseguiram concluir o ensino médio e sobre a situação dos estudantes na Espanha em crise.

Diário Catarinense — A Espanha está vivendo uma fase complicada, em que muitos jovens não conseguem encontrar emprego. No evento WorldSkills 2011, em Londres, comentou-se que não faltam empregos para muitos destes jovens, mas, sim, falta formação técnica e profissional adequada para que eles ocupem determinados postos de trabalho. O senhor concorda com esta avaliação? Os jovens espanhóis não estão procurando formação técnica? Se afirmativo, o que explica essa falta de interesse?

Julio Rogero — Não é verdade que os jovens espanhóis não têm interesse em sua própria formação. Na verdade, a atual crise econômica está fazendo com que 52% dos jovens espanhóis entre 18 e 34 anos estejam desempregados, frente a uma taxa total de 25% de desemprego. Nesta situação lamentável, muitos destes jovens buscam a formação técnica e os que se formaram vão a outros países buscar trabalho. É verdade que na Espanha, neste momento, há jovens desempregados por causa da baixa qualificação profissional, e outros tantos que tem alta formação técnica e acadêmica. Os jovens espanhóis buscam uma formação técnica que, frequentemente, não é oferecida para eles, já que há uma demanda maior de vagas do que ofertas nos centros de formação profissional. Na Espanha faz falta continuar aumentando o número de vagas e valorizar esta educação, já que apenas 33% dos jovens que terminaram o ensino obrigatório faz uma formação técnica e, o restante, vai para a universidade, que tem maior prestígio social.

DC — O Brasil tem muitos problemas na área de educação. Um dos principais está no ensino médio, que costuma registrar índices maiores de abandono, se comparado com o ensino básico. Para alguns jovens que saem da escola sem concluir o ensino médio, essa formação não tem muito sentido porque serviria apenas como preparação para entrar para a universidade. O ensino técnico, em conjunto com o ensino médio para jovens pode ser o caminho para diminuir o abandono dos jovens? O que explicaria esse índice maior de desistência?

Rogero — Não tenho dúvidas de que a formação técnica e profissional pode ser um caminho no qual muitos jovens que não conseguiram concluir o ensino médio obrigatório possam desenvolver-se e conseguirem uma formação. Em muitos países esse tipo de formação é chamada de ensino de segunda oportunidade. Na Espanha, chamamos este ensino de Programas de Qualificação Profissional Inicial, responsáveis por abrigar uma parte importante dos alunos que não conseguiram terminar de forma exitosa a educação obrigatória e que podem ter abandonado a sala de aula. Esta formação técnica é importante para que este aluno seja inserido no mundo laboral com uma qualificação profissional mínima que, sem dúvida, também facilita a inserção social dele ao recuperar sua autovalorização para que ele consiga seguir formando-se durante o restante da vida.

DC — Que outras medidas podem ser tomadas para melhorar o ensino para jovens no Brasil?

Rogero — Não conheço muito bem a realidade brasileira e não me atrevo a dizer que medidas seriam mais adequadas. Mas acredito que estas questões já estão sendo discutidas pelos responsáveis pelo ensino e pelas políticas educativas do país. O que posso dizer é que é muito importante que sejam investidos os recursos necessários para trabalhar, desde cedo, com programas de prevenção de repetência, desistência e evasão escolar no ensino obrigatório, já que este é um dos maiores problemas encontrados em quase todos os sistemas educativos. Estas são medidas e decisões que precisam ser feitas para que seja eficaz o direito de todos à educação.

DC — O governo brasileiro investiu muitos recurso no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como ferramenta para a democratização do acesso à universidade. O senhor conhece o Enem? Se afirmativo, qual é a sua opinião a respeito deste exame?

Rogero — Não conheço, em profundidade, o Enem. Por isso, não me atrevo a fazer uma avaliação dele. Só reconheço que este tipo de provas e exames que, em princípio, significaram um instrumento positivo de democratização da educação, também podem converter-se em instrumentos que, se não é feito um acompanhamento muito atento, podem transformar-se em obstáculos sem solução para muitas pessoas que querem acessar à universidade. Por isso é interessante abrir outras vias de acesso que, sem desvirtuar a formação que se exige para os estudos universitários, podem ser acessíveis a pessoas originárias das formações profissional e tecnológica.

DC — Como são feitos os investimentos na educação básica na Espanha? As escolas são públicas ou privadas? Elas oferecem condições adequadas para a entrada dos estudantes nas universidades?

Rogero — Na Espanha os investimentos em educação eram de 4,6% do PIB até o ano 2010. No orçamento para este ano, houve uma diminuição para 4% do PIB, o que corresponde a um corte de pouco mais de 4,5 bilhões de euros. Isso vai significar uma redução no número de professores, aumento do número de alunos por sala de aula, diminuição de recursos de todos os tipos. Isso afeta aos que tem menos recursos e, consequentemente, a aqueles que mais precisam. Na Espanha, 68% das escolas são públicas, e 32% são privadas, mas a maioria financiada por dinheiro público. Nas escolas públicas são encontrados todos os tipos de alunos. Nas privadas, subvencionadas ou não, estão os alunos que podem pagar pelo ensino e que foram selecionados para estar ali. Os alunos que concluem o ensino obrigatório tem condições adequadas para entrar nas universidade.

DC — O uso da tecnologia no ensino básico é uma realidade na Espanha? Ela está presente também nas escolas públicas?

Rogero — A presença da tecnologia no ensino básico é muito desigual nas diferentes comunidades autônomas (o país é dividido desta forma, não por estados) já que nem todas seguem a mesma política educacional a respeito das tecnologias. É verdade que, nos últimos anos, as aulas das escolas públicas tem adotado quadros negros digitais e computadores, e que estão sendo feitos esforços na formação de professores para a utilização destes aparatos.

DC — Como a tecnologia está sendo utilizada nas escolas espanholas? Os professores estão preparados para utilizá-la como ferramenta de ensino?

Rogero — A formação técnico-pedagógica dos professores neste campo faz com que os conhecimentos sejam utilizados de forma muito diferente. Para uma parte pequena, mas crescente, este está sendo um elemento de inovação importante para as práticas pedagógicas na sala de aula e um incentivo importante na motivação dos estudantes. Para outros, é um obstáculo ou, facilmente, algo isolado, momentâneo, devido à falta de formação. Mas o importante é que a tecnologia não significou, ainda, uma mudança nas propostas pedagógicas e inovações metodológicas que as tecnologias de informação e de comunicação deveriam trazer consigo. Frequentemente se repetem as mesmas didáticas de quando só existiam livros de texto. Um problema central para a mudança é a formação permanente dos professores, que está sofrendo grandes cortes de investimento, assim como a renovação dos recursos técnicos utilizados nas aulas. De todos os modos, este é um tema muito polêmico, que requer que as tecnologias da informação e comunicação sejam desmistificadas e situadas novamente em seus devidos lugares no processo educativo.

DC — O Brasil vive, atualmente, uma crise de falta de mão de obra qualificada para muitos postos de trabalho. Como solucionar o abismo que existe de uma educação mais qualificada em pouco tempo, para que o país não perca oportunidades na economia global?

Rogero — Esta é uma questão levantada por todos os países. Alguns, buscam não perder seus lugares privilegiados na economia global, enquanto outros buscam ocupar um lugar relevante e, os demais, para não serem insignificantes neste cenário. A resposta que costuma ser proferida é puramente técnico-tecnocrática e de pura competitividade. O problema é de investimentos, mas também é uma questão de orientação da educação profissional e tecnológica. Está aí a questão do modelo econômico, de termos uma economia de consumo e concorrência ou de termos uma economia para a solidariedade e a cooperação, de educar para o mercado ou educar para a vida… O problema é só de qualificação técnica e de pura competitividade? Ou é um problema de orientação da economia e da vida das sociedades no sistema mundial atual e para o futuro?

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