Uma visita ao reduto do herói

Mylton Severiano (à esq.) e Palmério Dória, conversando com Lutgardes, filho de Paulo Freire.

Por Mylton Severiano e Palmério Dória

Publicado en  Paulofreire.org

Lamenta Bertolt Brecht em sua peça Galileu: “Triste do povo que precisa de heróis.” Nós os temos. Um deles usou como arma a palavra para, dialogando, mostrar a sua gente como fazer “a leitura do mundo”.


Nós o visitamos na tarde paulistana de céu azul de 16 de julho de 2013. Em tudo vimos a presença dele. Nos milhares de livros lidos e anotados com sua caligrafia miúda e nervosa; na quantidade e qualidade dos títulos oferecidos na Livraria; na alegria das pessoas que nos receberam no edifício número 550 da Rua Cerro Corá, no Alto da Lapa, sede do Instituto Paulo Freire.

Seu filho caçula, Lutgardes, nos contou a saga da família desde o momento em que ele, um menino de menos de cinco anos, viu a polícia levando o pai duas semanas depois do golpe militar do 1º de abril de 1964.

Prender, depois banir o educador cujo nome já atravessava fronteiras; que, sem cartilha nem outros aparatos além de um projetor de eslaides, havia alfabetizado 300 cortadores de cana potiguares em pouco mais de um mês; e que se preparava para a gigantesca façanha de instruir e conscientizar 40% da população brasileira acima de 15 anos, mergulhada no analfabetismo; tal ignomínia, prendê-lo e bani-lo, dá ideia do obscurantismo que os golpistas de 64 vinham promover.

Enquanto o Brasil dos militares o enxotava como “subversivo”, o mundo o acolheria a partir de então. Paulo Freire começa a publicar seus livros em inglês. O primeiro, Pedagogia do Oprimido, sai até em Israel, menos aqui. Aqui, o PNA – Plano Nacional de Alfabetização –, lançado por João Goulart no início daquele ano fatídico, foi sumariamente cancelado. E os primeiros 3 mil projetores de eslaides poloneses que Paulo Freire havia importado viraram um perigo para quem os guardava. Ser apanhado de posse de um daqueles projetores era cadeia e espancamento na certa.

Lutgardes, quando passamos por um deles exposto numa vitrine, nos conta que as pessoas, apavoradas, enterravam os projetores. Paulo Freire serviu a outros povos, na África, na América Latina especialmente, durante os 16 anos de exílio. Patrono da Educação Brasileira, talvez seja o brasileiro mais homenageado mundo afora. Só títulos de Doutor Honoris Causa de universidades são cerca de meia centena. E na capital da Suécia, Estocolmo, figura ele numa escultura em praça pública ao lado do poeta chileno Pablo Neruda, do revolucionário chinês Mao Tse Tung, da ativista negra americana Angela Davis e outras figuras de renome universal na luta contra a opressão.

Um herói brasileiro.

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